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Foto do escritorRafael Alves

Miscigenação no Brasil



O que é miscigenação?


A miscigenação ou mestiçagem, significa a mistura de diferentes etnias ou culturas que vão originar um terceiro elemento. Ela acontece quando, por exemplo, um negro e um branco geram um filho. O Brasil é um país miscigenado cultural e etnicamente, devido a sua formação histórica. Por ser um país colonizado, muitos foram os povos de diferentes culturas e etnias que contribuíram para a formação étnica do país. Pessoas pretas, brancas e indígenas se relacionaram entre si e geraram filhos, o que deu origem ao Brasil como conhecemos hoje. Entretanto, o processo de mestiçagem, até chegar aos dias de hoje, passou por algumas definições ao longo da história.


Estratégia de apagamento


Durante o período de escravidão as mulheres negras, na condição de escravizada, eram exploradas sexualmente, mantidas como prostitutas para fonte de renda dos escravocratas, além dos estupros que sofriam de seus próprios senhores. Anos depois, esse fato foi omitido por Gilberto Freyre, que utilizou da miscigenação como argumento de que se deu pelo bom relacionamento sexual entre os senhores de escravos e escravizados, livre de preconceitos, definindo o Brasil como uma democracia racial.


Vale lembrar que o Brasil foi forçado, por pressão de outros países, a abolir a escravatura e se tornou, assim, um dos últimos países a aderir a abolição. Após abolidos, os escravizados foram jogados nas ruas tendo que se virar para conseguir sobreviver, obrigados a ocupar as periferias. Muitos foram os casos dos que optaram permanecer na condição de escravizados por não terem para onde ir, sem contar os casos dos que só ficaram sabendo da lei anos depois, por falta de acesso às informações. Além de serem sequestrados, transportados em condições desumanas e escravizados durante séculos, essas pessoas foram largadas à sua própria sorte sem nenhum tipo de reparação ou ajuda para a inserção na sociedade.


Após o período colonialista, na segunda metade do séc. XIX, parte da então elite brasileira se questionava sobre o motivo do atraso do Brasil em relação aos outros países e chegaram à conclusão de que o motivo de tal atraso seria a “mancha negra” deixada pelos povos africanos, que ainda fazia parte da população, concluíram então que o “problema” seria resolvido com a eliminação da raça negra. Acreditavam que com a mistura de raças facilitaria esse processo, pela prevalência do elemento “superior” fornecido pelo branco e mais cedo ou mais tarde ela eliminaria a raça negra do país. Nesse período, foram implementadas leis de imigração no Brasil, incentivando a entrada de europeus no país com promessas de emprego, moradias, entre outros benefícios. Estima-se que cerca de 2,5 milhões de europeus vieram ao país num período de 25 anos. Havia teorias que previam que, “com o fortalecimento dos valores mais altos das raças europeias”, em até dois séculos a raça negra desaparecia por inteiro. Os resultados dessas ações de embranquecimento foram observados em pesquisas que mostram que os números de brancos, negros e pardos tiveram uma significativa mudança no decorrer dos anos. Em 1872 a divisão era: 38,14% brancos; 19,68% pretos e 42,18% pardos. Já em 1950 a divisão era: 61,66% brancos; 10,96% pretos e 26,54% pardos. Porém, não se pode confiar inteiramente nesses resultados pois, por conhecermos as pressões a que pessoas negras estão submetidas no Brasil, essa coação pode ser capaz de levar a se identificarem como brancos ou o mais próximo disso. Então é possível que pessoas pardas tenham se identificado como brancas e pretas como pardos.


A miscigenação no Brasil, se estabeleceu em um instrumento eficaz de embranquecimento do país, por meio de uma hierarquização de cores e características, e assim colocou na base da pirâmide social a mulher preta retinta e no topo o homem branco, oferecendo aos que estão entre esses dois pólos o benefício simbólico de estarem mais próximo do “ideal humano”, o branco. Tal “benefício” pode ter impactado diretamente o negro brasileiro o levando a um imaginário social que indica uma suposta melhor aceitação dos mais claros em relação aos mais escuros, isso talvez explique as diversas expressões que algumas pessoas pretas e seus descendentes adotaram para definir suas raças, como: moreno, mulato, marrom bombom, cafuzo, entre outros. Esses termos são tão confusos que, no fim, todos são agrupados na mesma categoria: pardo. O IBGE utiliza essa categoria para aqueles que se autodeclaram miscigenados, no entanto, essa definição existe desde o censo de 1872. Ao contrário do que esse imaginário social pressupõe, pretos e pardos compõem um grupo que, do ponto de vista dos indicadores sociais, apresentam condições de vida semelhantes e igualmente inferiores quando comparados ao grupo branco, razão pela qual se define hoje a categoria negra como somatório de pretos e pardos.


Resistido ao embranquecimento


A criação do Teatro Experimental do Negro (TEN), surgiu como uma reação contrária do embranquecimento. Fundado em 1944, ele tinha como principais objetivos: resgatar valores da cultura africana; tentar educar a classe dominante branca através de uma pedagogia de arte e cultura; erradicar dos palcos atores brancos maquiados de pretos (Black face); retirar os papéis grotescos que eram ofertados a atores negros. Outro marco importante aconteceu na década de 90, o lançamento de uma campanha organizada pelo movimento negro e se repetiu anos depois, chamada ‘‘Não deixe sua cor passar em branco”. Alertando da importância da assunção da identidade historicamente negada, teve como objetivo incentivar as pessoas afrodescendentes a confirmarem sua ascendência africana no censo do IBGE.




Referências:




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