Representatividade é uma das palavras mais faladas dos últimos 5 anos, e sua importância foi amplamente discutida. Porém depois de tantas menções seu significado se tornou vazio para quem não possui a noção de sua real seriedade. Para pessoas negras ter representatividade é muito importante, pois tudo relacionado ao negro é socialmente desprezado. Seus traços, cultura e formas de expressar foram anuladas por uma sociedade controlada por pessoas brancas, cisgenero e hétero que se preocupa apenas com seus iguais. O auto-ódio é desenvolvido pela falta de pessoas negras como um referencial positivo na mídia, o que leva a alimentação deste sistema racista estrutural que anula qualquer possibilidade de afeto.
Foto de Ketut Subiyanto no Pexels
O ideal amoroso passado para a sociedade contemporânea foi fundado em nosso imaginário pelos clássicos da Disney e comerciais de margarina, no qual um garoto branco perfeito encontra uma garota branca delicada e formam uma família feliz para sempre, este molde foi martelado na cabeça de todos durante a construção da personalidade, o que levou à anulação do afeto amoroso direcionado a pessoas negras. O processo da diáspora africana deixou marcas nas relações afetivas sexuais como o medo de não ser escolhido, insegurança afetiva, machismo, dependência emocional e autoestima baixa.
O que é chamado de afro afeto nada mais é que pessoas pretas se amando, fugindo do ideal de amor implicitamente branco, e cuidando de suas especificidades. Para que o afro afeto seja praticado é necessário que primeiro ocorra a quebra deste ciclo de auto-ódio, como diriam os mais velhos "É necessário se amar primeiro para amar alguém”, se ver como alguém bonito e com qualidades é o primeiro passo para praticar o afro afeto. A partir deste ponto, olhar para o seu igual como alguém digno de afeto é descomplicado e confortável. O grande porém nas relações monoraciais, entre pessoas pretas, é aprender a lidar com alguém que também é e será machucado pela estrutura social.
Referências:
BERTH, Joice. Responsabilidade afetiva x Amor preto: as exclusões que se repetem. [S. l.], 11 jan. 2018. Disponível em: https://www.geledes.org.br/responsabilidade-afetiva-x-amor-preto-as-exclusoes-que-se-repetem/. Acesso em: 25 out. 2021.
Da Rocha Viana, M. (2019). Decolonizando afetos:: A presença do colonialismo na construção de afetos da população negra e a decolonialidade do ser. Revista Textos Graduados, 5(1), 69–84. Recuperado de https://periodicos.unb.br/index.php/tg/article/view/22499. Acesso em: 26 out.2021.
GONZAGA , Paulo. A construção afetivo-sexual do povo preto: reflexões sobre feridas coloniais. [S. l.], 11 set. 2020. Disponível em: https://negre.com.br/a-construcao-afetivo-sexual-do-povo-preto-reflexoes-sobre-feridas-coloniais/. Acesso em: 25 out. 2021.
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