Pensando no histórico de eleições e candidatos/as dentro do nosso sistema político, é possível observar que quase nunca tivemos pessoas que representassem de verdade o quadro social brasileiro, tendo em vista que esse deveria ser um fator crucial nas candidaturas. Mesmo com os números crescentes de pessoas que representam grupos sociais ainda prejudicados, porque não conseguimos eleger essas pessoas? E a pergunta que fica é: que tipo de pessoa política realmente nos representa?
No caso da presidência, tivemos ao todo 38 pessoas assumindo o cargo na política brasileira, e em meio a tantos homens brancos, apenas uma mulher e nenhum preto. Segundo maior país no mundo com população negra , o Brasil nunca elegeu uma pessoa preta para a presidência. O país também apresenta uma grande diversidade cultural e social, mas não chegamos perto de ver essa diversidade entre os candidatos, o que seria algo no mínimo interessante pois conseguiria mostrar que essas pessoas também políticas estão ativas no cenário e têm capacidade de assumir esses cargos. De acordo com os artigos 6º e 7º do Decreto-Lei nº 434-F/82 de 29 de outubro de 1982, temos dois tipos de políticos: eletivo e de nomeação. Aqueles eleitos pela população durante as eleições (governadores e deputados) são os eletivos, já os designados ou nomeados por alguém (como os ministros, que são nomeados pelo Presidente da República) são os cargos de nomeação. Dentre os eletivos, segundo estudos, poucos são os que possuem escolaridade completa e recursos financeiros suficientes para desbancar os mais preparados, e isso é um fator que dificulta a candidatura. A população naturalizou isso ao ponto de não enxergar que há um problema aí. A falta de candidatos que representam as classes mais baixas - com todos os seus subgrupos - acentua a desigualdade social no Brasil, e isso faz com que estejamos sujeitos a sobreviver sob o comando de pessoas que nunca tiveram sequer uma vivência próxima à realidade de uma considerada minoria.
E o que isso quer dizer? Temos um sistema político que nos impede até de chegar à candidatura e mesmo que isso aconteça, os recursos financeiros para investimento em campanhas é pouco ao ponto de fazer com que a gente não consiga arrecadar investimento para elas. Junto às pessoas brancas, não conseguimos apoio de personalidades influentes que lutam com a gente, tão pouco apoio de partidos. Desde 2014 cotas de gênero e raça têm sido dificilmente implantadas e discutidas no senado, a fim de aumentar a quantidade de candidaturas de pessoas vindas dessas representações que consigam se eleger em eleições proporcionais, assim como a regulamentação da distribuição de recursos do Fundo Eleitoral e do tempo de propaganda em rádio e televisão entre candidatos brancos e pretos estabelecida em 2020. Mesmo assim, sabemos que é preciso mais que isso, afinal ainda há uma disparidade enorme entre as representações nas candidaturas e seus resultados finais, ou seja, as efetivas eleições aos cargos.
Então, é válido dizer que por mais que nossos interesses enquanto cidadãos brasileiros não estiverem compatíveis com a nossa capacidade de mudar o cenário, esse quadro não estará sujeito a mudanças, o que é uma pena pois sabemos de todas as dificuldades que temos e estamos cientes de que será preciso uma transformação em todo conjunto de políticas públicas. Ou seja, tudo o que almejamos vai muito além quando se trata da política brasileira, nosso sistema é unilateral, e sempre foi, ele visa favorecer apenas quem já está no comando, e quanto mais se tem, mais se quer. Lembram da música da banda de axé “As Meninas”, lá de 1999? "Onde o rico cada vez fica mais rico, e o pobre cada vez fica mais pobre". É sobre isso.
Porém, não vamos desmerecer nossos interesses e as lutas que temos travado diante de tudo isso, é importante estarmos atentos/as e considerar os fatores mínimos que poderão nos deixar mais fortes. Por que não elegermos uma pessoa que nos represente de verdade? Por que não buscarmos meios de fazer com que essa mudança seja possível? Precisamos de pessoas do meio LGBTQIA+, pessoas pretas, pessoas pobres, pessoas que entendam todas essas pessoas e que saibam, acima de tudo, estar lá na frente construindo políticas que venham a favorecer todos esses grupos. Como iremos mudar o cenário enquanto aceitarmos e elegermos pessoas que não chegam perto da nossa realidade? Já procuraram saber quais serão os próximos candidatos (infelizmente ainda no masculino, pois é a probabilidade das candidaturas), de onde eles estão vindo, o que eles já fizeram e o que poderão fazer caso sejam eleitos? Já pararam para listar quais são as suas necessidades dentro dessa sociedade e como eles poderão atendê-las? Conversam em seus meios para saber o que as pessoas estão pensando a respeito e se elas estão cientes de que esse ano teremos uma das mais importantes eleições de todos os tempos? O tempo está passando rápido e quando menos esperarmos as campanhas já estarão rolando por aí. Vão mesmo esperar pra se trazer essa questão e finalmente ter a resposta que fará com que a mudança enfim comece?
Qual é o político que te representa de verdade?
Referência:
Por que o índice de negros em cargos políticos é baixo? Disponível em: <https://www.politize.com.br/indice-de-negros-em-cargos-politicos-e-baixo/> Acesso em 15 Fev 2022.
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