top of page
Foto do escritorAdriane Pinheiro

Protestar ou não protestar em tempos de COVID-19?

Atualizado: 7 de jun. de 2022

Manifestar-se, protestar, ir às ruas, de forma pacífica ou não, marchar em prol de uma causa, em resumo tudo isso implica em ir às ruas, gritar a plenos pulmões em defesa de sua causa junto a pessoas que acreditam nela com você. Mas como ganhar a visibilidade conseguida ao parar o centro da cidade para chamar a atenção, agora que é essencial ficar em casa para a contenção da pandemia do COVID-19?


Em 2020 motivados pelo assassinato de George Floyd por policiais nos EUA, ocorreram diversas manifestações ao redor do mundo guiadas pelo movimento Black Lives Matter (em português: Vidas Negras Importam), a população negra morre em massa todos os dias fruto da violência policial causada pelo racismo institucional. Durante a pandemia a população pobre e negra, é mais propensa a se contaminar por desinformação, por falta de espaço para um isolamento adequado e até por não ter poder aquisitivo para gastar com equipamentos de proteção adequados. Segundo o jornal ``El País'', o número de operações policiais aumentou durante a pandemia, resultando em um aumento de 43% das mortes, em relação ao dado no ano anterior, causadas por policiais em abril de 2020. Um exemplo direto da combinação entre operações policiais e isolamento social é a morte do jovem João Pedro, 14 anos, que morreu de bala perdida dentro de seu quintal no Complexo do Salgueiro em São Gonçalo. O corpo do jovem foi levado de helicóptero pelos policiais ficando horas desaparecido, sendo encontrado com ajuda de pessoas do Twitter no IML.


Os atos de junho de 2020 marcaram, não só por serem efetivos, conseguindo chamar atenção desejada para a causa mas pela dualidade criada dentro do movimento antirracista. Vozes de referência como Emicida e Djonga, ficaram em lados opostos na defesa de ir ou não às ruas. Emicida em um vídeo de 7 minutos explica detalhadamente o porquê de não foi aos atos, dentre esses motivos a desorganização e a possibilidade de infiltrados, são os principais. O rapper se diz com o coração despedaçado mas que devemos considerar para onde estamos levando o vírus quando a manifestação acabar e a posição de nosso governo genocida, na época morria um brasileiro de corona por minuto. Djonga em sua fala relembra que independente de qual escolha for tomada, ir ou não, é sempre o sangue dos seus que irá rolar. Que a estrutura racista do Brasil não terminará sem que haja uma articulação. Ambos os rappers passaram por um processo de rivalização na internet, que foi dispersado por falas individuais. Os protestos aconteceram com intensidade diferentes pelos Estados, as organizações que tomaram a frente distribuíram folhetos informando sobre a importância da máscara e do álcool em gel, as descrições dos eventos apresentavam como obrigatória o uso dos itens.


Hoje, março de 2021, o Coronavírus se tornou mais mortífero que nunca. Alcançamos a marca ingrata de 300.000 mortos, um colapso na saúde nacional e três variantes de um vírus não controlado. O pensamento fixo na lucratividade e as reaberturas de serviços não essenciais, elevou a taxa de contaminação, o processo de vacinação corre lentamente pela dependência a insumos externos e falta patrocínio federal. Porém as pautas sociais continuam as mesmas, se não mais agravadas pelo desemprego em massa e o corte do auxílio emergencial, seria palatável no passado sair às ruas mas hoje é praticamente uma sentença de contaminação certa. Não é necessário parar de se manifestar, só uma adaptação. Pelo menos por algum tempo sair das ruas e migrar para as redes sociais visando compartilhar informações fora de nossas bolhas desconstruídas, produzir conteúdo para chegar nos compartilhadores de Fake News e gerar uma re-educação coletiva.



Referências

PIRES, BREILLER PIRES. El País: Racismo. In: Vidas negras importam’ chacoalha brasileiros entorpecidos pela rotina de violência racista. São Paulo, 7 jun. 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-06-06/vidas-negras-importam-chacoalha-parcela-de-brasileiros-entorpecida-pela-rotina-de-violencia-racista.html. Acesso em: 21 mar. 2021.


MARTINS, Emerson. Achados & Perdidos. In: A esquerda refém do espetáculo ou porque o Emicida está certo. [S. l.], 11 jun. 2020. Disponível em: https://passapalavra.info/2020/06/132496/. Acesso em: 21 mar. 2021.


AIEX, Tony. Tenho Mais Discos Que Amigos. In: Djonga cita Emicida e diz por que irá às manifestações contra o racismo. [S. l.], 6 jun. 2020. Disponível em: https://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2020/06/06/djonga-emicida-manifestacoes-racismo/. Acesso em: 21 mar. 2021.


QUEM, Redação. QUEM NEWS. In: Emicida rebate críticas por não ter ido à manifestação: "Rezando para que o contágio tenha sido baixo". [S. l.], 9 jun. 2020. Disponível em: https://revistaquem.globo.com/QUEM-News/noticia/2020/06/emicida-rebate-criticas-por-nao-ter-ido-manifestacao-rezando-para-que-o-contagio-tenha-sido-baixo.html. Acesso em: 21 mar. 2021.


PACHECO, Tania et al. Ir ou não ir, eis a questão: manifestações na pandemia. [S. l.], 15 jun. 2020. Disponível em: https://racismoambiental.net.br/2020/06/15/ir-ou-nao-ir-eis-a-questao-manifestacoes-na-pandemia/. Acesso em: 21 mar. 2021.


GOMES, Nilma Lino et al. Debate. In: Racismo e novo coronavírus: armas mortíferas no Brasil. [S. l.], 3 jul. 2020. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/ensaio/debate/2020/Racismo-e-novo-coronav%C3%ADrus-armas-mort%C3%ADferas-no-Brasil. Acesso em: 21 mar. 2021.


Comentarios


bottom of page