Durante a pandemia, vários problemas foram acentuados no país, seria possível listar eles aqui, mas deixaremos com que cada um reflita e encontre em sua realidade os problemas que surgiram e/ou foram revelados nesse período pandêmico. Dentre esses problemas, um quase passa despercebido: o trabalho infantil.
Como as famílias menos favorecidas tiveram que lidar com a falta de tudo? Como as famílias que vivem num cubículo conseguiram manter cerca de cinco a dez cabeças sem o principal, o dinheiro. Diante de tamanho caos e falta de assistência, crianças tiveram que abandonar os estudos e passaram a trabalhar como adultos para conseguir contribuir na renda de casa, e acreditem, algumas tiveram que arcar com a renda da família inteira.
Essa é uma realidade que muita gente conhece e favorece, ao contrário do que muitos de nós ainda imaginamos. Assim como não conseguimos imaginar também que essas mesmas crianças tiveram que lidar com abusos sexuais, violência doméstica, fome, e covid-19.
Em meio a pandemia, tivemos cerca de 160 milhões de crianças e adolescentes lançadas na pobreza e aproximadamente esse mesmo número de crianças foram submetidas ao trabalho infantil. Perdemos quase todo o controle da situação, e enquanto tínhamos que lidar com o mal organizado e distribuído auxílio emergencial, essas crianças viram seus pais irem embora por conta da doença ou por abandono, assim como o direito aos estudos, pois muitas, que já não tinham estrutura para seguirem estudando, se viram tendo trabalhar para ter o que comer e não morrer de fome. Isso definitivamente é algo que não deve ser normalizado.
Segundo dados oficiais da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e UNICEF (Fundo das Nações Unidas Para a Infância), o progresso para acabar com o trabalho infantil estagnou depois de 20 anos. Com isso, houve um aumento no número de crianças entre 5 e 11 anos no trabalho infantil, e constataram que crianças e adolescentes com idades entre 5 e 17 anos estão em trabalhos perigosos, que prejudicam a saúde, segurança e moral.
“As novas estimativas são um alerta. Não podemos ficar parados enquanto uma nova geração de crianças é colocada em risco.” - Guy Rider (diretor-geral da OIT)
Sem cobertura político-social há a perspectiva de um agravamento na situação ainda este ano. Segundo o mesmo estudo, o número de crianças e adolescentes que serão empurrados para o trabalho infantil pode subir de 9 para 46 milhões. Governos e bancos internacionais deveriam urgentemente priorizar investimentos em programas que visem tirar essas crianças e adolescentes do trabalho e levá-los de volta às escolas, programas de proteção social e tudo o que for possível para fazer com que essa situação comece a ser amenizada.
O relatório ainda conclui que:
O setor agrícola é responsável por 70% de crianças e adolescentes em trabalho infantil;
Quase 63% dessas crianças e adolescentes estão fora da escola;
O trabalho infantil é mais prevalente entre meninos do que meninas;
A prevalência no trabalho infantil rural é maior que nas áreas urbanas;
No Brasil, cerca de 62% dessas crianças e adolescentes são negros, e esse é um dado que traz a nossa realidade nua e crua. Entre as respostas dadas pelas organizações como possíveis soluções estão as que já conseguimos imaginar dentro de nossa ignorância que não é levada em consideração e que aparentemente nem é respeitada dentro da sociedade: proteção social, aumento de gastos com educação, promoção de trabalho para adultos, investimento em sistema de proteção infantil e desenvolvimento agrícola, serviços públicos rurais, infraestrutura e meios de subsistência.
Tudo isso soma com a falta de capacidade dos grandes gestores de segurança e líderes internacionais em lidar com os problemas que passamos a enfrentar dentro desse cenário pandêmico. Coisas que já eram notadas desde sempre, e que por falta de pessoas capazes de resolver esse problema que segura a base de tantos outros, aliados a vários outros fatores que põe em risco a vida e sanidade de nossas crianças.
Pensaram nos problemas que passaram a cercar vocês desde então? Esses problemas são seus? O que vocês estão fazendo para contribuir com o fim deles? O que está fora do alcance de vocês, mas gostariam que fossem resolvidos pelos órgãos responsáveis?
Referências:
Longuinho, Daniella. Crianças sofreram com violência, abuso e trabalho infantil na pandemia. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/direitos-humanos/audio/2021-12/na-pandemia-criancas-sofreram-com-violencia-abuso-e-trabalho-infantil> Acesso em 20 jan 2022.
Child Labour: Global Estimates 2020, trends and the road foward. Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/trabalho-infantil-aumenta-pela-primeira-vez-em-duas-decadas-e-atinge-um-total-de-160-milhoes-de-criancas-e-adolescentes-no-mundo> Acesso em 23 jan 2022.
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