Levando em consideração que muita gente nem sabe a definição política, o que podemos afirmar aqui é que a música está para ela assim como o contrário, e a música preta acentua ainda mais essa relação entre as duas palavras.
Quando exercemos nossos direitos em assuntos públicos através da nossa opinião e do voto estamos realizando uma atividade política, por sua vez a música vem como uma das artes com as quais podemos exprimir questões culturais e humanas através de combinação entre silêncio e som. No contexto sonoro, essa transmissão pode vir em voz ou instrumentos musicais, além de ter um grande poder de manifestar artisticamente sentimentos de certo grupo ou povo.
Durante todo o tempo, a todo momento, e há muitos séculos a música vem sendo explorada e exemplificada como um fator que impulsiona e retrata grandes movimentos sociais no mundo. Um grande exemplo disso é o caso do recente black lives matter, que foi fundado após a morte do jovem Trayvon Martins nos Estados Unidos pelas ativistas Opal Tometi, Patrisse Cullors e Alicia Garza em 2013. A hashtag rapidamente se espalhou pelo mundo e virou um dos símbolos de maior atenção, puxado pela indignação com o tratamento dado pela polícia às pessoas pretas. A tag impulsionou as manifestações em todos os campos artísticos, e na música não foi diferente. Vários artistas pretos ganharam notoriedade ao expor suas revoltas através de suas artes, colocando ritmos e vozes que passam a ter mais voz e estilos característicos de um grupo dentro da sociedade: a música preta.
Mas temos uma estrutura altamente racista e quebrar esse ciclo parece ser algo impossível quando a gente pensa na quantidade de pessoas brancas que ainda detém as riquezas e poderes dentro de qualquer mercado. No mercado fonográfico isso não é diferente, apesar de inspirador ele também é bastante perigoso e precisamos estar atentos ao que ele faz com a gente enquanto consumidores de música.
Quantos artistas pretes consumimos? Quantos desses estão em evidência? Quais desses conseguem viver do que fazem? Já nos perguntamos porque a Ludmilla e/ou a Iza tem menos reconhecimento e valor no mercado do que a Anitta e/ou Luisa Sonza? Por que a Beyoncé parou de assumir o topo das paradas depois que passou a expor sua origem preta? Por que a galera do sertanejo tem muito mais investimento no mercado do que a de outros estilos musicais?
A música tem um grande poder de influenciar gerações e causar impactos que repercutem durante gerações. Atualmente estamos vivendo na época de ascensão da nossa cultura periférica, que tem sido explorada e exposta mundialmente, e consequentemente temos mais vozes pretas ganhando notoriedade no mercado fonográfico mundial, mas será que nossos artistas estão sendo valorizados por isso? Essa é uma reflexão cabível, pois não podemos apenas continuar apenas dando, precisamos e merecemos receber também. Então vamos lá? Escutar artistas da música preta faz com que eles ganhem mais notoriedade e espaço dentro do mercado. Numa lista recente apresentada pelo Spotify, pudemos ver que a única artista preta do Brasil que circula entre artistas mais ouvidos é a Ludmilla. O que isso diz sobre como esse mercado funciona? Será que estamos atentes à isso? Quais artistas estão ganhando ascensão no mercado internacional? Quais artistas da comunidade preta estamos escutando e dando espaço em nossas playlists?
Referências:
Um Olhar Sobre a Indústria da Música e o Black Lives Matter. Disponível em: <https://musicainspira.com.br/2020/07/25/um-olhar-sobre-musica-black-lives-matter/> Acesso em 9 Maio 22
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