Antecedentes históricos
Na década de 60, nos Estados Unidos da América, ainda por resquícios da escravidão, a população negra teve que enfrentar uma grande segregação racial. Desse modo, entre as restrições que duraram décadas estavam: a limitação do acesso ao transporte público; banheiros e bebedouros separados para brancos e negros; entradas diferentes para brancos e negros; restaurante e comércios que se negavam a atender pessoas negras, entre outras restrições. Toda essa segregação era regida por leis conhecidas como Leis de Jim Crow. Nessa época, era comum pessoas pretas serem presas por “crimes” de rebelião, apenas por se oporem a tais leis. Vale lembrar que nesse mesmo perío foi fundada a Ku Klux Klan (KKK), uma organização terrorista inspirada no ideal de supremacia branca que, mesmo não oficilmente, tinha respaldo do poder público. Entre as ações da KKK, se destacam a morte de indivíduos negros por espancamento e enforcamento. O grupo chegou a ter milhões de adeptos, o que demonstra como o ódio racial estava disseminado no país, não muito diferente dos dias atuais.
Poder Negro
O termo Black Power se popularizou com a mobilização da população negra por direitos civis. Stokely Carmichael, militante do movimento negro dos Estados Unidos, utilizou o termo em um de seus discursos, após sua 27ª detenção, em 66. “Estamos gritando liberdade há seis anos. O que vamos começar a dizer agora é poder negro.” Carmichael escreveu o livro Black Power, em parceria com Charles V. Hamilton, e foi um dos mais destacados militantes do Partido dos Panteras Negras.
O Movimento Black Power pregava a autoafirmação de pessoas pretas, inspirando orgulho em demonstrar suas características físicas. Desse modo, o cabelo black power se tornou um dos principais símbolos do movimento. Os militantes da causa defendiam a ideia de que as pessoas negras deveriam não só assegurar os seus direitos civis, mas principalmente criar organizações políticas e culturais especificamente voltadas para eles, atendendo às suas necessidades.
O Black Panther Party for Self Defense (Partido dos Panteras Negras para Autodefesa) foi fundado em 1966 em Oakland, Califórnia, tendo se tornado a organização de militantes do Black Power mais influente da época. Seus membros enfrentaram políticos e desafiaram a polícia com o intuito de proteger os cidadãos negros das injustiças e violência que sofriam. Por outro lado, os programas de serviço comunitário do partido, chamados de “programas de sobrevivência”, forneciam alimentos, roupas e transporte à população negra. Mais do que integrar os negros à sociedade americana, os Panteras Negras quiseram mudá-la profundamente. Para eles, o Black Power era uma revolução global. O partido era formado por muitas mulheres, que constituíam cerca da metade dos seus membros e desempenhavam papéis de liderança. Condicionadas desde o tempo da escravidão a alisar o cabelo, elas bateram o pé e decidiram andar pelas ruas ao natural, o que causou espanto e resistência da comunidade branca. Entre muitos, o nome de Angela Davis surge como um dos principais marcos nessa luta. Ativista desde os primeiros anos de sua juventude, Angela fez parte do Partido Comunista e também do Panteras Negras. Em pouco tempo havia se tornado uma das principais referências na luta pelos direitos dos negros, sendo, inclusive, procurada pelo FBI. Muito do respeito que ela havia conquistado dentro do movimento, vinha de seu cabelo afro, que se tornava mais uma maneira de intimidar opressores.
O legado do Black Power
O movimento de combate às desigualdades estruturais inspirou outros grupos. Mais recentemente, o seu legado inspirou o movimento Black Lives Matter.
São quase 70 anos na luta pela afirmação de estética como identidade, em que o cabelo e sua naturalidade sobressaem aos padrões de beleza europeus para se afirmar como instrumento de resistência e cultura. Desse modo, seja na política ou nas artes, o cabelo black power foi e é um símbolo que ultrapassa as fronteiras da beleza e significa para o negro o resultado da luta de seus antepassados e também a determinação em manter viva a identidade de quem lutou pelos seus direitos.
Referências:
Comments