Que vivemos em uma sociedade patriarcal e, consequentemente, machista, já sabemos. Agora, será que temos noção de todas as consequências que essa estrutura pode trazer?
Fazendo uma breve pesquisa no google, encontramos o termo “masculinidade” sendo referido como um conjunto de características que a sociedade valoriza em um homem. A grande maioria dessas características mencionadas estão ligadas a um papel de gênero imposto pela sociedade que categoriza o homem como uma figura de força e virilidade, e a mulher como delicada e frágil. Esses estereótipos nos são impostos desde crianças quando pais e/ou responsáveis tratam crianças reforçando esses papéis com brinquedos, roupas ou cores divididas entre “coisas de menino” e “coisas de menina”, por exemplo. Sem contar os discursos como “homem não podem chorar” e a ideia de que deve ser forte e nunca demonstrar fraquezas, ideias e discursam que colocam homens como um ser puramente instintivo e que muitas vezes minimizam seus erros com justificativas de que “homem é assim mesmo” ou “ele tem suas necessidades”.
O gênero é uma construção social binária que divide as pessoas em dois grupos: masculino e feminino. Durante muito tempo foi reforçada a ideia de que o homem, dentro do seu “papel masculino”, é o provedor, então, em um casamento ele deveria ser a parte que trabalha e leva o alimento, enquanto a mulher, no seu “papel feminino”, estaria fadada a servi-lo e cuidar da casa e filhos; como se devesse estar disponível para ele sempre que quisesse. Quando são contrariados ou acreditam não estarem cumprindo o “papel de homem”, saem em uma busca incansável de se reafirmar e muitas das vezes envolve um comportamento agressivo, gerando uma masculinidade tóxica que impactam vários setores da sociedade e é a base para preconceitos como a transfobia e a homofobia, além de outras violências que tudo que se aproxime do feminino pode sofrer. Quando os pais são cultivadores desse ideal machista, levam crianças a se portarem como eles, as impedindo de serem apenas crianças. O que pode levar a mais uma geração que cresce com o entendimento de que o feminino é inferior, reprimindo seus sentimentos e levando esses comportamentos para suas relações.
Uma masculinidade tóxica ou frágil - como eu, particularmente, prefiro tratar - de acordo com o psiquiatra Raymond Buscemi, está ligada às ações de negar o feminino. Ou seja, um homem com masculinidade frágil tem a sua identidade de gênero totalmente voltada ao fato de que ele não é uma mulher, e ele precisa provar isso constantemente. Em sua grande maioria essas afirmações são através de uma atitude violenta, alguns exemplos são: agressão sexual; indiferença, apatia e supressão de emoções; hipercompetitividade; necessidade de dominar ou controlar os outros; tendência ou glorificação da violência; isolamento; baixa empatia; machismo e sexismo.
Os danos de uma masculinidade frágil, além dos causados na sociedade, como os preconceitos que partem dela e as diversas agressões causadas às mulheres, também impactam a pessoa que apresenta esse comportamento. Estudos provam que homens com a masculinidade frágil, tendem a não buscar ajuda mesmo em casos que envolvam sua saúde física ou mental, por relacionarem esse tipo de cuidado como “coisa de mulher”. Tem um vídeo no youtube em que o cantor Baco Exu do Blues em um desabafo diz:
“Eu não conseguia sair, eu não conseguia viver, eu não conseguia trabalhar, eu não conseguia falar pra ninguém que isso tava acontecendo comigo. Eu não conseguia falar com ninguém, porque era um dos sintomas da parada; mas, sim, pelo fato de eu ter vergonha de falar pras pessoas que eu não era forte o suficiente pra tá lidando com uma coisa que era maior do que eu.”
E completa:
“[...] só depois que você vai tomando a noção do que te rodeia, você vê o quanto isso vai te privando de ser você mesmo e acaba que você perde a sua identidade e você vira o que as pessoas estão querendo que você seja.”
É importante que nós, enquanto sociedade, façamos um movimento contrário. Quebrar com esses papéis de gênero impostos nos ajuda a evoluir, portanto, precisamos discutir essas narrativas, questionar o que é ser homem e abrir espaços para as diversas possibilidades de masculinidade.
Referências:
Comments