O jogador de futebol Paulinho, da seleção brasileira e Bayer Leverkusen, gerou uma comoção dos meios de comunicação ao comemorar um gol nas Olimpíadas de Tokyo 2020, com um gesto que simula o ofá de Oxóssi, seu pai no candomblé. O atleta simulou atirar uma flecha para homenagear e agradecer seu orixá pela conquista em nome do Brasil, e salientou sua homenagem em seu twitter (@PaulinhoPH7) com a legenda “Okê Arô! Saravá meu Pai” em um vídeo do momento.
Foto: Lucas Figueiredo/CBF
Na grande mídia essa demonstração foi tratada com respeito e uma roupagem de coragem, se isentando da tradicional fala preconceituosa que é direcionada às religiões de matriz africana e seus praticantes. Em 2019, o Grupo Record foi condenado a pagar uma indenização de 800 mil para líderes religiosos pertencentes a Umbanda e ao Candomblé por apontamentos ofensivos em seus programas. Além de associar as religiões a violência e a práticas agressivas, ocorreram falas relacionando perda de emprego e vícios ligando-os a religiões de matriz africana.
Mas por que existe tamanho ódio direcionado às religiões de matriz africana e seus praticantes?
A única resposta lógica que encontramos foi que esse ódio provém do racismo alimentado desde a época da colonização dos portugueses. Colonizar uma terra é remover todos os costumes e crenças originais e substituí-los pelos do colonizador, no Brasil quem recebeu o primeiro impacto foram nossos povos originários e depois as pessoas escravizadas trazidas do continente africano. Como pessoas pretas eram vistas como objeto não tinham direito de praticar suas crenças originais, daí surgiu o sincretismo que mascara elementos de religiões de matriz com símbolos cristãos.
Dados do IBGE em 2020 apontam que 54% da população nacional é negra, mas mesmo assim o racismo ainda existe e cria braços estruturais. Por mais que a laicidade seja garantida constitucionalmente em todas as instituições, na prática vemos que isso não é verdade, caso não seja cristão sofre repressão. Graças a um esforço descomunal do movimento negro durante anos, se tornou um pouco mais facil falar sobre religioes de matriz africana na tv, hoje temos personalidades como Yuri Marçal e Jessica Ellen falando abertamente sobre suas praticas. Além de vários globais que apareceram usando guias de maneira discreta, mas já que a Tv não é o centro da comunicação nacional recomendo que sigam a Mãe Marcia Marçal (@maemarciamarcal) em todas as redes sociais para ver como uma religião de matriz africana realmente atua.
Referências:
ALICE Wegmann elogia comemoração de Paulinho nas Olimpíadas: 'Me tocou'. [S. l.], 27 jul. 2021. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2021/07/4939428-alice-wegmann-elogia-comemoracao-de-paulinho-nas-olimpiadas-me-tocou.html. Acesso em: 19 ago. 2021.
IAMIN, Leandro. Paulinho, atleta de Exu, usa bola para plantar respeito depois de gol na estreia. [S. l.], 24 jul. 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/esporte/2021/07/24/paulinho-atleta-de-exu-usa-bola-para-plantar-respeito-depois-de-gol-na-estreia. Acesso em: 19 ago. 2021.
DO NASCIMENTO, Manoela Alexandre. Emissora Rede Record é condenada a exibir programas sobre religiões de matriz africana por ter sido condenada por intolerância religiosa. [S. l.], 2019. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/72367/emissora-rede-record-e-condenada-a-exibir-programas-sobre-religioes-de-matriz-africana-por-ter-sido-condenada-por-intolerancia-religiosa. Acesso em: 19 ago. 2021.
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