Já fazem 3 meses que fora decretada a quarentena obrigatória, e escolas e universidades públicas suspenderam suas aulas. Hoje, iremos fazer um pequeno recorte sobre a problemática das novas formas de dar continuidade nas aulas sem que haja um planejamento, levando em consideração, a realidade da maioria dos estudantes da rede pública. Além de um planejamento, deve haver auxílio para a garantia do(a) aluno(a) nas aulas sem debilitar o ensino.
Primeiro, precisamos considerar que cada estado tem uma realidade. Levando em conta isso, devemos entender que ao nos referirmos à educação pública estamos englobando: escolas municipais, estaduais e federais; universidades estaduais e federais. Mas hoje, iremos nos direcionar aos alunos do ensino fundamental ao médio; segundo Censo Escolar de 2019, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), há cerca de 47,8 milhões de estudantes, sendo 38,7 milhões estudantes da rede pública. Ou seja, mais da metade dos estudantes do Brasil depende do ensino público e dos poucos recursos que ele proporciona.
A segunda coisa que precisamos entender, é que a escola tem responsabilidade não somente com o ensino, mas sim, no fornecimento de auxílios que garantam o(a) aluno(a) na escola e o seu desenvolvimento. Muita das vezes pensamos em algo de maneira limitada, precisamos analisar com um olhar mais amplo e que fuja de uma análise baseada somente na realidade de uma pessoa ou em um pequeno grupo de pessoas. Por isso, entende-se que o aluno está dentro da rede pública de ensino por falta de recursos financeiros para arcar com mensalidades, alimentação e transportes, logo, o Estado deve garantir tais despesas, para que o aluno tenha acesso ao ensino que é direito de todos os cidadãos. Dentro da escola, o aluno tem sua alimentação garantida (dentro do período de aula), o transporte (com cartões de passagens ou transportes fornecidos pelos municípios ou estado, para que garanta a ida e volta dos estudantes). Levamos em consideração, toda precarização em que são fornecidos os recursos aos estudantes da rede pública, a situação que já estava ruim, torna-se ainda pior em um cenário de quarentena.
Como fica a situação do aluno que depende da refeição que a escola disponibiliza?
Como ficam os alunos que moram e lugares de vulnerabilidade ? Se o aluno perdeu um familiar por Covid-19?
As questões emocionais dos alunos estão sendo levadas em consideração?
Segundo uma pesquisa divulgada pelo IBGE, em 2018 a cada 4 brasileiros 1 não tem acesso à internet, em números isso representa cerca de 46 milhões.
E para os que têm acesso à rede como é a qualidade desse acesso?
São diversas questões que precisamos considerar dentro da análise para qualquer plano ser colocado em prática. Na pandemia em geral, observamos uma precarização em todos os setores e instituições, infelizmente com a educação não seria diferente, inclusive sendo alvo de diversos ataques. O investimento para o ensino a distância torna-se argumento forte em cenário de pandemia, o que na verdade precariza ainda mais a qualidade do ensino.
Como já apresentamos ao longo texto, somente proporcionar o ensino sem que garanta que todos os alunos tenham acesso é excluir grande parte dos estudantes, fazendo com que a desigualdade cresça cada vez no cenário da educação.
No cenário pré-pandemia, cada estudante apresentava suas diferenças de privilégio para estar dentro de uma instituição de ensino, como por exemplo: o trajeto até a escola; o meio de transporte pelo qual se locomovia; e até o material no qual tinha em mãos para realização das aulas.
Agora, estando em casa, esse abismo desafios aumenta cada vez mais, e as oportunidades ficam seletivas. Segundo o IBGE, 30% das residências brasileiras não possuem acesso à internet, sendo assim, esse um dos principais problemas para o estudante. Sem contar com os diferentes ambientes nos quais esses jovens vivem; a falta que a merenda escolar faz, e em muitas situações, a necessidade do jovem trabalhar em meio a pandemia para auxiliar na renda familiar.
Perante a esse cenário conturbado, nota-se os resultados que reverberam da falta de auxílio do Estado, tanto o auxílio econômico, quanto o auxílio educacional para que o estudante consiga acompanhar sua instituição e seus respectivos colegas de classe. Tendo que lidar com um cenário epidêmico, o ano letivo não para, mas ao mesmo tempo não tem planejamento; a desigualdade aumenta ainda mais e a educação se torna cada vez mais seletiva.
Neste momento, a falta do Estado é uma grande irresponsabilidade, e principalmente um descaso com milhões de alunos que merecem uma educação de qualidade.
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