Segundo o Professor Mário Sérgio Cortella, educação é um processo que não cessa nunca”. Em função disso ela ocorre diariamente em qualquer ambiente, seja presencial ou virtual. A educação acontece em casa, ou por meio das redes sociais como instagram, facebook, etc. No entanto, o processo interrompido pela pandemia não foi o processo de educação mas de escolarização de crianças e jovens, no seu sentido usual, isto é, a escolarização presencial.
Neste sentido, logo no início da pandemia, frente à necessidade de isolamento social imposta pela situação pandêmica houve uma resposta mais rápida e eficiente das instituições de ensino particulares, ao passo que as instituições públicas responderam de forma mais lenta e emergencial.
No entanto, a questão central da educação em contexto pandêmico é a ampliação da defasagem em um sistema que já era, no cenário pré-pandêmico, desigual. O acesso à informação é um dos pontos mais relevantes. E é importante ressaltar que, por mais que o EAD esteja previsto na base nacional comum curricular, a educação a distância na pandemia foi uma decisão tomada em caráter emergencial. Portanto, as famílias que não possuem acesso à internet, ou que podem dispor de apenas um dispositivo para que os filhos participem das atividades online, são aquelas que mais sofrerão com a defasagem na aprendizagem. Por outro lado, pais e responsáveis são essenciais no processo de educação de seus filhos, isto é, o “educar para a vida”, assim como influenciam no ampliamento cultural deles. Porém, quando se trata do processo de escolarização, o contato com o professor, aquele que é preparado para dar aulas com sequenciamento na aquisição de conhecimento e desenvolvimento de competências em crianças e jovens, é insubstituível. Logo, há múltiplos espaços de aprendizagem que dialogam entre si, entretanto não são intercambiáveis.
Outro ponto muito que contribui na defasagem do sistema educacional durante a pandemia é a situação do docente. Se considerarmos que o EAD, educação à distância, é uma prática já utilizada há alguns anos e está previsto na base nacional comum curricular, o ensino à distância no contexto pandêmico não foi planejado. Por isso, os docentes não tiveram treinamento, visto que o preparo para as aulas presenciais é diferente do preparo para uma aula online, e ainda assim tentam assegurar que crianças e jovens mantenham o aprendizado adquirido e avancem um pouco mais.
No atual momento da pandemia, um sistema híbrido é utilizado, e cabe aos Estados decidir o que é melhor para que a defasagem educacional, que segundo o Piza é de maior desigualdade entre os 25% mais ricos, e 25% mais pobres, não se torne ainda mais profunda.
O que é a BNCC?
A Base Nacional Comum Curricular é um documento que estabelece regras e define o conjunto de habilidades e competências essenciais que todos os alunos devem aprender e desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. O principal objetivo desse documento é ser a reguladora da qualidade da educação no País por meio do de um patamar de aprendizagem e desenvolvimento a que todos os alunos têm direito. Nas duas primeiras versões, a BNCC foi redigida por um grupo de especialistas indicados pelo próprio ministério da educação, assim como professores e técnicos experientes indicados pelo Consed (Conselho Nacional de Secretários da Educação) e Undime (União Nacional dos dirigentes Municipais de Educação) também fizeram parte deste grupo. Para a elaboração destas primeiras versões do documento houve a participação de um total de 116 pessoas, divididos em 29 comissões. Cada comissão foi composta por 2 especialistas das áreas de conhecimento, um gestor de secretaria ou professor com experiência de gestão em currículo e um professor com experiência em sala de aula. Considerando a versão final do texto, foi responsável um comitê gestor constituído por titulares e suplentes de diversos órgãos e entidades vinculadas ao MEC.
O que a base nacional comum curricular diz sobre o ensino online?
A BNCC prevê o desenvolvimento de competências e habilidades relacionadas ao uso crítico e responsável das tecnologias e do ambiente digital de forma transversal – presentes em todas as áreas do conhecimento e destacadas em diversas competências e habilidades com objetos de aprendizagem variados – assim como de forma direcionada – tendo como objetivo o desenvolvimento de competências relacionadas ao próprio uso das dispositivos, recursos e linguagens digitais –, ou seja, o desenvolvimento de competências de compreensão, uso e criação de Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) em diversas práticas sociais, como destaca a competência geral 5:
“Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.” (BNCC, 2018)
Portanto, é necessário destacar que integrar as tecnologias digitais na sala de aula, não se trata de utilizá-las somente como meio ou apoio para promover aprendizagens ou despertar o interesse dos alunos, mas de utilizá-las em conjunto com os alunos para que adquiram conhecimento sobre o uso dessas TDICs. Logo “ [...] o professor não precisa ser o detentor do conhecimento técnico sobre o uso das ferramentas disponíveis, mas sim o mediador que vai auxiliar os estudantes na reflexão sobre os melhores usos possíveis das TDICs.” (BNCC 2018)
Sendo assim, para que haja uma base sólida na construção de currículos escolares e de propostas pedagógicas que contemplem tal uso “ativo” das TDICs, o Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb) elaborou e disponibilizou de forma aberta e gratuita o Currículo de Referência em Tecnologia e Computação (2018), que prevê eixos, conceitos e habilidades alinhadas à BNCC e voltadas exclusivamente para o desenvolvimento de competências de exploração e de uso das tecnologias nas escolas, além de propor uma reflexão sobre os usos das TDICs.
Enfim, durante a pandemia não houve tempo hábil para que profissionais da área de educação pudessem se adaptar e se preparar para um sistema de ensino híbrido. A defasagem educacional durante o cenário pandêmico pode tornar ainda mais desigual. Portanto o ponto crucial num cenário pós-pandêmico é a realização de um diagnóstico pelas instituições educacionais, a fim de amenizar os possíveis buracos que possam existir no processo de escolarização de crianças e jovens.
Referências:
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018;
Brasil. Ministério da Educação. Tecnologias digitais da Informação e Comunicação no contexto escolar: Possibilidades. Brasília. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/aprofundamentos/193-tecnologias-digitais-da-informacao-e-comunicacao-no-contexto-escolar-possibilidades. Acesso em: 09/05/2021;
CANAL DO CORTELLA. Educação na pandemia - Mário Sérgio Cortella. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Uj8qZsIfA-w&list=PLg0E1SlfrcFVam8wzGsqGOedAxDom2Bsr&index=2 . Acesso em: 08/06/2021
THE HISTORY CHANNEL BRASIL. Os Impactos da pandemia na educação| #HistoryEntrevista Claudia Costin. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Uj8qZsIfA-w & list= PLg0E1SlfrcFVam8wzGsqGOedAxDom2Bsr & index=2. Acesso em: 06/05/2021;
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