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Foto do escritorAdriane Pinheiro e Eduarda Ferreira

A Prostituição no Brasil e Suas Mazelas

Atualizado: 7 de jun. de 2022

Devido a amplitude e complexidade do assunto foram feitas reuniões individuais com 5 membros, sorteados da equipe Politiquei, visando trazer diferentes olhares. Mesmo assim, o texto não aborda todos os pontos importantes do tema, as autoras indicam para um real aprofundamento do assunto, o acesso e leitura das referências.


 

A popular frase "A prostituição é a profissão mais antiga do mundo" foi repetida tantas vezes que acabounse tornando quase uma verdade coletiva, senso comum herdado das gerações anteriores. Porém, apesar de ganhar esse status de profissão por júri popular, ser prostituta ainda é visto com os piores olhos e não é juridicamente reconhecido como uma profissão. A mulher que é colocada como mercadoria, é julgada moralmente por outras e por seu gênero oposto, a diferença na balança é observada quando o homem julga, mas contrata seus serviços, movimentando o mercado e tornando a existência da profissão possível. A percepção do tempo de existência da prostituição é ligada a quanto tempo temos consciência da incontestável dominação patriarcal capitalista na sociedade, que empurra mulheres que não possuem formação adequada ou estão em situação de vulnerabilidade nas ruas, como forma de sobrevivência.


Segundo a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), 90% da comunidade Trans tem a prostituição como forma de sobrevivência. O alto índice de evasão escolar, a dificuldade de retificação dos documentos e a falta de preparo do mercado de trabalho formal, acaba por tornar essa uma das únicas opções possíveis para retirada de seu sustento. Por serem constantemente marginalizadas, pessoas que não tem contato com mulheres trans, acreditam que elas buscam nas ruas afeto em seus programas, porém Wana (mulher trans, professora,22 anos) contradiz essa afirmação dizendo que suas amigas que fazem programa afirmam que não existe nem uma espécie de afeto na atividade, durante o tempo estipulado, tudo é meramente profissional e separado da vida afetiva. De acordo com dados do Mapa dos assassinatos de Travestis e Transexuais no Brasil em 2017, feito pela Antra, a cada 48 horas uma pessoa trans é assassinada no Brasil.


Outra situação em que mulheres que trabalham com sexo são expostas é o contágio com IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis). Colette Guillaumin (1978), analisa que as mulheres padecem de não TER um sexo, mas de SER um sexo, no imaginário patriarcal. Assim, o cliente vê a profissional como um produto, sendo ela um produto, ele entende que pode usá-la como deseja no tempo contratado. Existem incontáveis relatos de mulheres que foram violentadas de forma física, psicológica e sexual durante o programa. Apesar das profissionais terem um conhecimento sobre prevenção de IST e seus tratamentos, elas são contaminadas em situações de violência e de não consentimento. As denúncias à polícia são desacreditadas, muitas vezes não indo além do boletim de ocorrência, pois a moral social é colocada acima do consentimento da profissional.



Entrevista


Uma das grandes discussões sobre a prostituição é a questão da regulamentação da profissão. Apesar de ser uma das mais antigas no mundo, é a mais marginalizada por deslegitimar a existência e dignidade de quem atua nessa atividade. A equipe de redação do Politiquei conversou com uma mulher – usaremos o pseudônimo “Rosa” - que trabalha nessa área há 16 anos.

Equipe Politiquei: Por que você decidiu iniciar nessa profissão?

Rosa: Porque eu fiquei desempregada e precisei de dinheiro para pagar minhas contas.

Equipe Politiquei: Qual foi a sua porta de entrada?

Rosa: Em 2005, fui mandada embora da loja de roupas onde eu trabalhava. Recebi auxílio desemprego durante seis meses, nesse período eu até fiz um “bico” como ajudante de merendeira em uma escola municipal, mas o salário era muito pouco, era menos do que um salário mínimo, na época. Eu procurava emprego, mas não conseguia nada, meu auxílio desemprego já tinha acabado e eu continuava sem trabalho. Eu tinha uma amiga que trabalhou comigo na loja de roupas, ela sabia que eu estava procurando por algo e não estava conseguindo, então me contou que durante o dia trabalhava na loja e à noite em uma Whiskeria, na Penha. A princípio, eu disse que não, mas as coisas estavam ainda mais ruins, eu tive que parar de fazer o curso técnico em enfermagem, não estava com dinheiro para fazer compras, morava com minha mãe, tinha uma filha pequena. Aí, depois eu aceitei a proposta.

Equipe Politiquei: Como você se sentiu?

Rosa: Na primeira semana que eu fui, eu não consegui. Na hora, eu só pensava no meu pai e na minha mãe. Eu era mais jovem, bonita, não consegui, fui embora.

Equipe Politiquei: E como você retornou?

Rosa: Passaram-se 15 dias, o pai da minha filha me procurou, chorando, dizendo que tinha sido dispensado do trabalho, mas o pai dele iria dar a alimentação. Bateu um desespero, porque criança não é só alimentação. É médico, remédio, escola, roupas, etc. Ele fez várias provas, mas não conseguia passar, e foi aí que eu vi que ia precisar ajudar também, e voltei.

Equipe Politiquei: Na época, inicialmente, quanto você recebia?

Rosa: A gente ganhava por semana, em torno de R$1.500.

Equipe Politiquei: O que você pensa a respeito da regulamentação da profissão?

Rosa: Eu acho justo. Hoje eu vejo que é um trabalho como outro qualquer. A pessoa que ganha dinheiro com isso é muito mal vista pela sociedade, mas para a gente, é um trabalho normal. Eu tenho muitas ex-colegas que trabalham em outras coisas, que juntaram dinheiro e conseguiram sair dessa profissão, mas só conseguiram graças ao dinheiro que ganhavam, juntaram dinheiro e foram trabalhar com o que gostam. Porque, a verdade é que ninguém que trabalha com isso gosta, só se ganha bastante dinheiro. Por causa desse trabalho eu não fui uma mãe presente. Às vezes, eu ficava uma, duas semanas fora, não via minha filha, mas voltava com bastante dinheiro e comprava coisas para ela, eu achava que estava tudo bem.

Equipe Politiquei: Você pretende sair dessa profissão?

Rosa: Sim, eu vou terminar minha faculdade de nutrição e seguir nessa carreira, é o que eu realmente gosto.


Existem muitas histórias como a de Rosa, histórias que se repetem. Outras que se modificam de acordo com as situações e que nem sempre têm desfechos bons.

Embora polêmico, seria inegável admitir que regulamentar essa profissão traria benefícios a essas pessoas. Garantiriam direitos como acesso à Justiça e direito à aposentadoria.




Referências:


Antra. Mapa dos assassinatos de Travestis e Transexuais no Brasil em 2017. Dez, 2018, p. 16-18. Disponível em: https://antrabrasil.files.wordpress.com/2018/02/relatc3b3rio-mapa-dos-assassinatos-2017-antra.pdf,

Site Super Interessante. Debate: a prostituição deveria ser regulamentada? Julho, 2018. Disponível em: https://antrabrasil.files.wordpress.com/2018/02/relatc3b3rio-mapa-dos-assassinatos-2017-antra.pdf.


GUILLAUMIN, C. Pratique du pouvoir et idée de Nature. Le discours de la Nature, Questions féministes, n. 3, p. 5-28, maio de 1978.


MARQUES QUEIROZ, Fernanda; DINIZ, Maria Ilidiana. A relação entre gênero, sexualidade e prostituição. [S. l.], 2008. Disponível em: A relação entre gênero, sexualidade e prostituição Ma https://revistas.ufpr.br/diver/article/view/34006. Acesso em: 5 abr. 2021

NAVARRO SWAIN, Tânia. Banalizar e naturalizar a prostituição: violência social e histórica. [S. l.], 15 maio 2020. Disponível em: Banalizhttps://www.periodicos.unimontes.br/index.php/unicientifica/article/view/2440. Acesso em: 4 abr. 2021.


SILVA ALMEIDA, Ionara. DETERMINANTES SOCIAIS X IST: PROFISSIONAIS DO SEXO. [S. l.], 2016. Disponível em: DETERMINANTES SOCIAIS X IST: PROFISSIONAIS DO .http://publicacoesacademicas.unicatolicaquixada.edu.br/index.php/mice/article/view/1149. Acesso em: 5 abr. 2021.


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